Cores aliadas aos processos psicológicos básicos
Já
abordamos os temas percepção, representação mental e emoção separadamente, mas
os processos psicológicos básicos são mais complexos do que uma ou outra
definição, pois eles estão todos conectados. Um bom exemplo disso são as cores.
Será
que, mesmo nossa percepção sendo falha, as cores possuem significado e influenciam
nossas emoções?
Sim,
elas têm esse poder.
Mas
antes precisamos entender o que é cor.
Cor é
uma percepção visual provocada pela ação de um feixe de fótons sobre células especializadas
da retina, que transmitem impressões para o sistema
nervoso. Essa percepção da cor é resultante
da reemissão da luz vinda de um objeto que foi emitida por uma fonte luminosa
por meio de ondas eletromagnéticas.
O olho humano é um mecanismo complexo desenvolvido para a percepção
de luz e é ela quem vai nos dizer que cor é aquela que estamos vendo.
Ou seja, a cor não é um fenômeno físico, é um
fenômeno fisiológico.
Podemos usar como exemplo, duas imagens que viralizaram nas
mídias sociais e foi motivo de discussão.
Esse vestido foi visto como branco e dourado.
Esse vestido foi visto como branco e dourado.
Mas ele é preto e azul.
E esse tênis? Cinza e verde?
Ou rosa e branco?
De acordo com o site de tecnologia Wired.com, a chave
para decifrar o enigma está na forma como os olhos e o cérebro evoluíram para
ver cores na luz solar.
Como os seres humanos evoluíram para ver a luz do dia,
seus cérebros começaram a levar em conta o fato de que a luz muda de cor.
Os objetos têm um certo tom alaranjado no começo da
manhã, mais azulado ao meio-dia e voltando a ter um tom avermelhado ao pôr do
sol.
O cérebro tenta descontar o efeito da luz do sol, ou
outra fonte de luz, para chegar a uma cor "verdadeira".
Por isso, algumas pessoas veem azul no vestido, mas seus
cérebros ignoram isso, atribuindo a cor azulada à fonte de luz, em vez de ao
próprio vestido. Elas veem branco e dourado. Outros atribuem o azul que eles
veem ao próprio vestido – que é a cor correta do vestido, azul e preto. O mesmo
vale para o tênis, que é rosa e branco.
Usando um aplicativo para
corrigir o tom de branco da fotografia, é possível confirmar que o verdadeiro
tom é o rosa.
De acordo com o neurocientista Bevil Conway, nessas situações, “o cérebro compensa certos excesso e defeitos
da iluminação do entorno”. Essa compensação é útil para identificar objetos em
diferentes ambientes.
O mesmo ocorre nas roupas cirúrgicas. Por que elas são verdes
ou azuis? Para contrastar com os tons vermelhos do sangue, pois o olho fica
muito saturado da cor vermelha e a tendência é que ele busque equilibrar esse
excesso buscando sua cor complementar.
Cores complementares são aquelas que mais oferecem contraste
entre si. Como podemos ver na imagem acima, a cor complementar de uma cor é a que está
em posição oposta, ou seja, na outra extremidade do espectro.
De acordo com a
definição de Michel Eugene Chevreul, no século XIX, a cor complementar de uma
matriz é aquela que mais absorve seu espectro.
Para
exemplificar, vamos fazer um teste.
Olhe para o
ponto preto que está na bandeira por aproximadamente um minuto. Tente não
piscar e o mais importante, NÃO desvie o olhar! E logo em seguida olhe para uma
tela em branco. Você verá a bandeira do Brasil com as cores corretas.
Como pudemos ver então a cor das vestimentas no ambiente
cirúrgico não pode ser branca, pois as células podem interpretar a cor como
fonte de luz podendo comprometer a visão do médico durante o processo
cirúrgico. Em outras palavras, se tudo fosse branco, o cirurgião enxergaria
várias manchas verde-azuladas.
Mas como a percepção das cores nos afeta psicologicamente?
Já estudamos na escola sobre cores quentes e frias. Elas
podem nos dar a sensação de um ambiente quente e cheio ou frio e vazio, pois o
calor e o fogo estão associados a presença de vida no ambiente e o frio a sua
ausência – podemos observar isso nas estações do ano.
Também associada a emoções, as cores podem ser
representativas: nas artes visuais, por exemplo, cores quentes tendem a
representar emoções mais impulsivas, como a raiva e a paixão, enquanto que as
cores frias representam emoções mais retraídas, como a apatia e a solidão.
Essa é uma técnica bastante usada no cinema também para
melhor imersão do telespectador nos sentimentos do personagem, pois assim como
trilhas sonoras, a arte visual também afeta nossas emoções.
Mas elas não nos afetam por possuírem significado próprio.
Como vimos na representação mental, criamos significados aliados a um contexto.
No caso das cores, o contexto é cultural. Podemos ver isso tão logo que
nascemos: se formos do sexo masculino, as cores ao nosso redor serão azuis, mas
se formos do sexo feminino, haverá uma infinidade de tons rosados, pois na
nossa cultura identificamos o sexo de um bebê dessa forma, entretanto a cor,
por si só, não afeta nosso humor. Isso pode inclusive prejudicar a visão do
bebê, como vimos no exemplo do ambiente cirúrgico. O ideal para um bebê é que
haja várias cores para ele reconhecer juntamente com cores neutras, ampliando a
sua cognição e não cerca-lo com apenas uma cor quente ou com apenas uma cor
fria.
Portanto, mesmo que um menino não goste de azul e uma menina
não goste de rosa, é assim que eles serão representados nas mídias e essa
familiaridade nos dá a sensação de conforto e aconchego associadas aos cuidados
e brincadeiras da infância. Em outras palavras, a cor rosa ou a cor azul – como
qualquer outra cor – não possuem uma propriedade aconchegante, mas o contexto em
que estão inseridas nos dá essa sensação. Porém, mesmo que o ser humano seja um
ser social, se encaixe a abrace seu contexto cultural, ele ainda é um indivíduo
e suas representações são muito pessoais.
Por exemplo, a cor laranja representa vitalidade, pois é uma
cor quente e está associada à flores, frutos, por do sol, etc.
Mas o que representaria para um presidiário norte-americano?
Mas o que representaria para um presidiário norte-americano?
Logo, o laranja pode ser uma cor que cause medo e
desconforto.
Por isso a maioria dos consultórios são com cores neutras,
para que, com cores quentes, não estimule a animosidade dos clientes, mas
também não retraia, com cores frias, as suas falas e os deixem livres para
expressarem os seus sentimentos.
Então o que temos que nos perguntar, mais do abraçar
significados culturais é: o que isso significa para mim? Não apenas nos
limitando ao “me sinto confortável ou desconfortável com isso”, mas sim “por
que me sinto confortável/desconfortável com isso”? Que significado eu atribuí a
isso? Será que eu posso ressignifcar essa situação já que o que vemos é apenas
uma representação da realidade?
REFERÊNCIAS
EYSENCK, Michael W. Manual de Psicologia Cognitiva. 7ed.Porto Alegre: Artmed, 2017
REFERÊNCIAS
EYSENCK, Michael W. Manual de Psicologia Cognitiva. 7ed.Porto Alegre: Artmed, 2017
Comentários
Postar um comentário